Pra quem não sabe, "Tetro" (Tetro, 2010) é o novo filme do diretor Francis Ford Coppola, ambientado, quase todo, na Argentina. Coppola, elevado ao status de gênio depois de filmes como "O poderoso chefão" e "Apocalypse Now", não esconde de ninguém a vontade de reviver seus dias áureos no cinema, mas a verdade é que há tempos o diretor não surpreende o público cinéfilo com algo que renove de alguma forma a sua cinematografia, que lhe dê novos ares artísticos. "Velha juventude", seu último filme, de 2007, é convencional demais, normal demais, não decola, em resumo, não agrada a quem espera mais de um gênio como o Coppola. Então resta a pergunta: o que esperar de "Tetro"?
Bem, os primeiros 10 minutos de filme são essencialmente irretocáveis. A composição dos quadros, a suave fotografia em preto e branco, a força da interpretação da atriz espanhola Maribel Verdú (do brilhante filme "O Labirinto do Fauno"), interpretando Miranda, a trilha sonora que traz a música "Naomi", escrita pelo pai do Coppola, como tema. Todos esses pontos contribuem para que a primeira sequência de cenas de "Tetro" seja, com um pouquinho de exagero, emocionante. Em um muro qualquer, aos 3 minutos de filme, lemos a frase pichada: NO SUELTES LA SOGA QUE ME ATA A TU ALMA" (Não solte a corda que me prende à sua alma). Essa frase é uma metáfora da mensagem do filme. Aliás, "Tetro" (Vincent Gallo) é um escritor que rompeu laços com o pai, nos Estados Unidos, e decidiu morar na Argentina. Bennie (Alden Ehrenreich), irmão de Tetro, desembarca na Argentina, quando o navio no qual é camareiro passa por reparos, e decidi ir ao encontro do irmão intencionando desvandar antigos mistérios da família. Digamos de passagem que o Coppola tem experiência no tratamento do tema família. "O poderoso chefão" é uma prova disso. Entretanto os personagens de "Tetro" não são tão bem trabalhados quanto os da obra-prima do diretor, até porque o roteiro escrito pelo Coppola para "Tetro" não é tão brilhante quanto para o supra-citado. Para mim, o roteiro de "Tetro" de deixou a desejar, principalmente na maneira rasa com a qual trabalhou seus personagens, alguns destes, sem motivações para agir da forma que agem no filme. Além disso, podemos notar alguns (irritantes) erros de continuidade no filme do Coppola, como numa cena onde Bennie é atropelado e em outra onde Tetro desaparece de um quarto de hotel. São pequenas falhas, mas que prejudicam o resultado final da obra. Mas, como já foi citado anteriormente, a fotografia em preto e branco de "Tetro", com algumas cenas importantes coloridas, do fotógrafo romeno Mihai Malaimare Jr. é belíssima, dando o tom dramático que o diretor queria empregar nas suas imagens, revelando uma instabilidade constante na relação dos personagens e aumentando o incômodo causado pela luz intensa constante, objeto importante no filme. Aliás, o jogo de luz e sombra no filme é muito bem empregado e principalmente as cenas que retratam peças de teatro, em enquadramentos inteligentes em plano médio e com uma direção de arte sem erros e que valoriza tanto as cenas em preto e branco tanto as raras, mas também belíssimas, cenas coloridas.
Coppola dirigiu bem os atores, "Tetro" é um filme de boas atuações. Vincent Gallo (ator americano, viu Jô Soares!!!) que interpreta o Tetro, incorpora bem a personagem conflituosa e cheia de mistérios. Todos vão bem, até serem limitados por seus personagens. "Tetro" é um filme lírico, se assim pudermos chamá-lo. Uma obra bastante instropectica e pessoal do Coppola, que imprimi na personagem Tetro, características suas, e na família da personagem, características da sua família (o pai de Tetro, por exemplo, é maestro, assim como o pai do Copolla). Às vezes a obra parece ser artística demais, sem roteiro pra isso. Um filme onde podem ser encontradas características que levaram o Coppola a ser conhecido como um dos melhores diretores norte-americanos da história do cinema, mas a impressão que ele pode fazer muito melhor continua lá, no final dos 127 minutos de exibição do filme.
Enfim, o que esperar de "Tetro"? Vou deixar que você assista ao filme e responda a si mesmo essa pergunta. Uma coisa só eu digo: não espere uma obra-prima nem um filme ruim. Se é fã, não espere ser surpreendido. Assista ao filme e se quiser comente aqui depois o que achou!
Curta aqui o trailer do filme:
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