segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Ainda existem vídeos "caseiros"?

Quem imaginaria que uma simples brincadeira entre amigos, sob o leve efeito do álcool, em um feriado, fosse fazer tanto sucesso? Como seria possível adivinhar que a ideia pudesse se transformar no quinto vídeo mais assistido no mundo, dentro do portal YouTube? Sendo o campeão de visualizações no território brasileiro, o pitoresco Minha Mulher Não Deixa Não! mostra quatro amigos fazendo uma tentativa de clipe de uma música homônima de DJ Sandro, um artista até então desconhecido da grande maioria do público.

Com mais de 2,5 milhões de visualizações no principal link, o vídeo fez tanto sucesso que mereceu até uma longa reportagem em um dos principais jornais da Região Metropolitana de Recife. Nela, foi possível conhecer o compositor da música (?), assim como a sua história, e o local de idealização da mesma. Entretanto, com certeza, o ponto mais alto foi a aula da famosa dança dos quatro amigos, onde até mesmo o jornalista da emissora se rendeu.

Deixando de lado qualquer tipo de piadinhas ou comentários desnecessários, o que fica depois da visualização do referido vídeo é conscientização da atual situação do público em relação às produções audiovisuais. O que antes era uma relação de passividade, por parte do público, se transformou em uma forte atividade.

Até alguns anos atrás, o público não tinha muita influência nas produções. Normalmente, ele poderia influir em poucos exemplos de programas, - como as novelas, onde o público, por meio, por exemplo, da pesquisa de audiência, poderia dar a sua opinião, e, dependendo da frequência da opinião, poderia haver alguma modificação nelas. Entretanto, essa situação não ia muito longe: o público não afetava tão significantemente as produções existentes, e muito menos tinha formas de exposição das suas.

Sim, as pessoas sempre produziram, entretanto, a divulgação desses produtos sempre ficava em um âmbito familiar. Aquele vídeo caseiro da festa de quinze anos da filha, (onde a mãe ficou dando vexame por causa do seu elevado nível alcoólico), só era mostrado, no máximo, aos amigos mais próximos, sem haver uma forma de disponibilização para mais pessoas. Com certeza, o divisor de águas dessa situação foi a criação, (e explosão), dos sites de divulgação de vídeo, onde as pessoas encontraram um bom local para mostrar as suas produções caseiras e, talvez, encontrar fãs.

Quer algo mais comum do que a cena de um bebê mordendo o irmão em um dia qualquer? Pois é, bastante comum, mas quem conseguiu segurar o riso com Charlie bit my finger ? A fama foi tamanha que os garotos mereceram até mesmo uma entrevista em uma emissora de televisão. Ou então, como esquecer David e sua embriaguez pós-anestesia dentária? As mais de 75 milhões de visualizações do vídeo mostram que, cada vez mais, as pessoas começam a ter uma atitude diferente: qualquer cena pode trazer sucesso, então, o que vale é gravar, colocar na internet e cruzar os dedos!

Minha Mulher Não Deixa Não! é só mais um dos tantos outros exemplos do atual comportamento do público que, entre outros, influi para a construção da situação da mídia que, cada vez mais, procura uma maior proximidade com ele. Como não tem como haver uma competição onde o público saia perdendo, a forma encontrar pela mídia foi se aliar a ele, e mesclar as suas produções com a do público, mostrando que a interação é a pedida da vez.


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